Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864

Allan Kardec

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(Sociedade Espírita de Paris, 5 de novembro de 1864 - Médium: Sr. D'Ambel)

Por que não criou Deus todos os seres perfeitos? Em virtude mesmo da lei do progresso. É fácil compreender a economia desta lei. Aquele que marcha está no movimento, isto é, na lei da atividade humana; aquele que não progride, que em essência se acha estacionário, incontestavelmente não pertence à gradação ou à hierarquia humanitária. Explico-me. O homem que nasce numa posição mais ou menos elevada, acha em sua situação nativa um dado estado de ser. Ora! Ele está certo de que se sua vida inteira decorresse nessa situação, sem que ele lhe tivesse trazido modificações por sua ação ou pela de outrem, ele declararia que a sua existência é monótona, aborrecida, fatigante, numa palavra, insuportável. Acrescento que ele teria perfeita razão, visto que o bem só é bem relativamente ao que lhe é inferior. Isto é tão certo que se puserdes o homem num paraíso terrestre, num paraíso onde não se progride mais, em dado tempo ele achará a existência insustentável e aquela morada um impiedoso inferno. Daí resulta, de maneira absoluta, que a lei imutável dos mundos é o progresso ou o movimento para a frente, isto é, que todo Espírito que é criado está inevitavelmente submetido a essa grande e sublime lei da vida. Consequentemente, assim é a própria lei humana.

Só existe um ser perfeito, e não pode existir senão um: Deus! Ora, pedir ao Ser Supremo a criação de Espíritos perfeitos, seria pedir-lhe que criasse algo de semelhante e igual a si. Emitir semelhante proposição, não é condená-la previamente? Ó homens! Por que perguntar sempre qual a razão de ser de certas questões insolúveis ou acima do entendimento humano? Lembrai-vos sempre que só Deus pode ficar e viver na sua imobilidade gigantesca. Ele é o supremo senhor de todas as coisas, o alfa e o ômega de toda a vida.

Ah! Crede-me, filhos, jamais busqueis levantar o véu que cobre esse grandioso mistério, que os maiores Espíritos da criação não abordam sem tremor.

Quanto a mim, humilde pioneiro da iniciação, tudo o que vos posso afirmar é que a imobilidade é um dos atributos de Deus, ou do Criador, e que o homem, e tudo o que é criado, têm como atributo a mobilidade.

Compreendei, se o puderdes, ou esperai a hora de uma explicação mais inteligível, isto é, mais ao alcance do vosso entendimento.

Não trato senão desta parte da questão, pois vos quis provar apenas que não tinha ficado alheio à vossa discussão. Sobre todo o resto, reporto-me ao que foi dito, pois todos me pareceram da mesma opinião. Em breve falarei dos outros casos que foram assinalados (os casos de Poitiers).

ERASTO

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